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domingo, 27 de fevereiro de 2011

"Como disse?"


Chamaram-me para administrar um injectável. Lá abandonei as imensas caixinhas de comprimidos e cremes e subi as escadas moderadamente contente. Afinal, neste meu emprego, vão sendo raras as ocasiões para me sentir minimamente enfermeira. Vou fazendo de tudo que posso. Muito de auxiliar de farmácia, alguma coisa de estafeta ou menina de recados, quanto baste de "arrumadora de coisas em geral", muito pouco de enfermeira. Não é portanto de estranhar que uma merdice de uma injecção me deixe contente. Visto a bata e o meu sorriso amistoso e lá vou eu.

Sempre tive a sensação que as pessoas me tratam de maneira diferente por trabalhar numa farmácia ao invés de estar num hospital, por exemplo. Talvez tenham razão. Dar injecções e avaliar tensões arteriais não faz de mim uma enfermeira.

A senhora lá entrou, baixou a saia e deitou-se na marquesa. Quando acabei ela continuou deitada. Perguntei se estava tudo bem, e disse que se estivesse podia se levantar. Ao que a senhora diz, num tom de como quem fala com o mordono:

"Menina, faça o favor de me massagar o rabo para o líquido espalhar melhor".

Como disse? Quando é que eu passei de profissional de saúde para massajadora de rabos? Definitivamente ando a fazer alguma coisa errada. Se ao menos ter outro emprego fosse uma opção de escolha.

Este é só um exemplo de como atender utentes é tão diferente do que atender CLIENTES. Não, não tenho feitio para atender clientes. Embora na sua essência os utentes ou doentes, sejam sempre clientes. É só uma questão de como lhe querem chamar.

Mas estes são tão clientes ao ponto de exigirem que lhe massagem o rabo.


ALICE

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