E lembro-me de uma tarde de ensaios, como tantas outras. Nós no coro sentadas em fila nos banquinhos de madeira, o rapaz da bateria lá atrás a tentar levantar as sais das miúdas com as baquetas, a boa disposição, os risos, as gargalhadas. E nós sentadas...e ela apé...meia destrambelhada, como sempre foi e como nós nos riamos por ela ser assim. Porque era mesmo assim que gostavamos dela. E o Chico, nosso professor de canto e música, o que se pode chamar de uma pessoa porreira, sempre com uma palavra de alegria, mas que até para ele a paciência tem limites, e a cada duas frases dizia:
-G., senta-te!
-G., está quieta!
-G., Está calada!
E nós riamos. Porque ela era mesmo assim.
E ia à porta. E ia à janela. E ia ao baterista (ai o baterista). E voltava para a nossa beira.
E nós riamo-nos.
E chega a hora de cantar. E diz o Chico:
-Vá meninos, todos de pé.
E nós obdeciamos. E eis que ele passa um olhar por nós, e todos apé, em sentido. Mas alguém estava sentado. Era ela. E o Chico diz, quase cansado:
-G., põe-te apé.
Ao que ela responde, de sorriso matreiro:
-Oh, agora estou cansada!
Nós rimo-nos. Até o Chico não controlou a gargalhada.
Porque ela era assim.
E eu tenho saudades dela.
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